12 de março de 2011 |
23h29 |
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Categoria: Comportamento, Geral
Suzane G. Frutuoso
Malas pesadas vinham de todos os lados no Terminal Rodoviário do Tietê, na zona norte, na terça-feira, quando muitos já retornavam do feriado de carnaval. Algumas pessoas carregavam várias delas, entre mochilas e sacolas.
“Mas ninguém ajuda”, diz a advogada Thaíse Andia, de 31 anos, que voltava da casa da família em Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo, com três malas. “Em cinco anos, viajando a cada 15 dias, conto nos dedos de uma mão as vezes que alguém me ofereceu auxílio.” Thaíse não é a única a se incomodar com a falta de gentileza do paulistano.
Na rodoviária, entre sete pessoas que a reportagem abordou em dez minutos, todas negaram uma palavra e quatro não foram nada gentis. Considerando que a viagem poderia ter sido cansativa, fomos observar gentileza também na quinta-feira, na Avenida Paulista, região central. Foi pior.
No ponto de ônibus, duas moças usavam os assentos, para elas e suas sacolas, enquanto uma senhora ficou em pé. Na entrada da Estação Consolação do metrô, um casal diminui o passo para dar um beijo. Três pessoas que vinham atrás fizeram cara de poucos amigos ao desviar. Um deu até um esbarrão.
Os pedestres invadem a via na esquina com a Rua Augusta, mesmo com o semáforo fechado para eles, e os carros freiam em cima. Quase como por vingança, os veículos avançam em quem ainda atravessa a faixa assim que o sinal abre. E ninguém pode demorar um segundo a mais parado no lugar que as buzinas gritam.
Segundo o livro Pessoas gentis são mais felizes (Editora BestSeller), do professor italiano P.M. Forni, lançado na sexta-feira, a cordialidade gera bem-estar, derruba a ansiedade, o estresse e a tristeza, além de aumentar a produtividade e nos tornar atraentes. Praticamente um elixir. Quem é menos gentil do que deveria, acaba privado desses efeitos positivos.
“Nas metrópoles, viver no anonimato e o elevado estresse são responsáveis pelas atitudes grosseiras”, disse Forni, professor e fundador da Civility Initiative, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, em entrevista ao JT.
A psicóloga Claudia Stella, professora de Psicologia e Sociedade da Universidade Mackenzie e da pós-graduação em Educação da PUC, concorda com Forni. “Há 20 anos, a queixa principal no consultório era a dificuldade de relações. Agora, é a impessoalidade das relações. Tem me assustado a fala do ‘eu sozinho’.”
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